Ela era ela

Monday, May 28, 2007

João e Maria, homens de preto e Marisa – O fabuloso destino de F.G.



Tudo começou no fim do espetáculo.
Havia um clima de plenitude no ar. Depois da execução de um repertório incrível, que incluiu todas as canções do álbum novo e outras emblemáticas de sua carreira, como Futuros Amantes, Bye Bye Brasil, Grande Hotel e Quem Te Viu, Quem Te Vê
, o mestre cantou João e Maria no último bis. A platéia era um mosaico de fãs e não cabia em si. E eu partilhava do delírio, aqueles momentos eram a concretização um projeto de vida: presenciar uma apresentação do Chico Buarque.

Mal sabia eu que o fim era apenas o começo.
Depois do show, tudo ainda era muito confuso. Poderíamos fazer uma rebelião e não desocupar o teatro até que o mestre voltasse, mas isso seria chantagem. Ou mesmo ficar por lá só pra trocar impressões sobre o espetáculo com estranhos, afinal todos eram cúmplices naquele instante e estavam unidos pela admiração ao repertório recém-executado. Sem saber o que fazer, observei um movimento ímpar em meio à platéia que pouco a pouco se desfazia. Eram vários homens de preto circundando um grupo menor; algum tumulto e flashes intrometidos. E a massa rumava à saída que não era autorizada aos pagantes comuns. Percebi que ali se encontravam o presidente Lula e alguns anexos, e tive certeza que eles passariam por algum lugar que facilitaria meu acesso ao Chico. Não tive dúvida em segui-los.

Veio a encenação.
A comitiva passou muito rápido pela área restrita, e deixou um rastro de fãs – do presidente e do cantor – à sua frente. Uma fila de mais ou menos quinze pessoas, pra ser exato, esperando pela chance de entrar e encontrar seus ídolos. Passei ao lado da fila e simplesmente empurrei as barras de metal que abriam as portas, pra espanto do segurança que guardava o local. Acho que ele não teve coragem de sequer cogitar o motivo da minha entrada, menos ainda de me vetar, tamanha a minha segurança e convicção ao passar pela entrada. Não fiz nada de caso pensado, mas o fato era que aquela podia ser a chance de estar com o mestre, e nada me intimidaria. Então meu lado cênico dominou meu comportamento e tudo fluiu a partir daí. Verdade que o figurino também ajudou: infelizmente num país tropical como o nosso, ainda recebem status de confiança e poder as pessoas que insistem em se vestir contradizendo o clima. Eu vestia um terno, e acho que a roupa foi crucial para que o segurança acreditasse que eu realmente era alguém nos bastidores, mesmo ter qualquer crachá ou idade suficiente pra isso.

Era uma questão de encontrar a luz.
Ao entrar na área restrita, encontrei com uma escuridão enorme. Aparentemente, não tinha mais ninguém ali. Então pensei que uma saída de luz indicaria um caminho, e foi o que busquei. O lugar parecia um labirinto, e ao mesmo tempo eu sabia que não podia demorar, afinal a qualquer momento alguém da produção podia chegar e acabar com minha peregrinação. Pensando nisso, vi um ponto de claridade no meio do breu e andei em sua direção. Empurrei outra porta e cheguei a um lugar cheio de movimento. Na minha frente, uma comitiva presidencial de oito carros. À esquerda, a saída VIP do show: embaixadores, atores, políticos e tudo mais. À direita, um pequeno curral abrigava um batalhão de repórteres e um pedestal com seus respectivos microfones e gravadores. E no meio disso tudo... EU. Bem no meio da área mais inacessível.

Momento tenso.
Ninguém prestou muita atenção na minha presença, afinal o burburinho era grande. Mas de repente eu prestei atenção na minha localização, e percebi que ocupava um lugar privilegiado demais. Foi quando ouvi um breve silêncio e notei olhares cheio de canivetes, inclusive de um segurança 4x4 que tentava conter a imprensa. Pensa rápido, pensa rápido... Bom, se alguém vier falar comigo vou dizer que sou da Biscoito Fino. A gravadora tem que ter acesso irrestrito ao espaços do seu artista... E aí, quando já estava prestes a ser capturada por um dos homens de preto, a comitiva presidencial invadiu o espaço. Não tive dúvidas, entrei na muvuca e sumi no meio dos inquilinos do palácio. Ajustei meu passo ao ritmo deles – eita, Lula e adjuntos! Quem são essas meninas, netas do presidente? E essa mulher de azul, acho que é uma atriz famosa, qual delas? Muita informação! – e notei que a Marisa estava sorrindo pra não sei quem, talvez pro teto, e insistia em arrumar uma estola de lã em volta do pescoço maior que ela.

Aí foi como Neil Armstrong na lua.
“Bom, já tô aqui mesmo, é agora ou nunca...” Pensei. E aí me aproveitei do autismo da primeira-dama pra garantir minha ida ao camarim do Chico Buarque. Não tive dúvidas e peguei na mão dela, e acho que ela nem notou que era eu, afinal estava cercada de outras meninas do mesmo tamanho, poderia ser qualquer uma delas. Quem ia me tirar dali ao me ver de mãos dadas com a Marisa? Aí lembrei do
Neil Armstrong e me comparei a ele: aquilo foi um pequeno passo para uma fã, mas um grande salto para a humanidade.

Olhei e vi.
Foi então que tudo aconteceu. Mais uma das infinitas portas se abriram, e atrás dela não tinha um macaco pavoroso nem uma loira balançando a chave de um carro... Tinha um homem lindo e solitário, de sorriso tímido e olhar sincero. Era ele na minha frente, CHICO BUARQUE DE HOLLANDA! Gritei isso pra mim mesma várias vezes, bem alto, bem louca. Do lado de fora, externava uma leve frieza diante do encontro, afinal era tudo que eu devia fazer se quisesse permanecer no recinto - agir como as outras pessoas e fingir que aquela situação era uma coisa muito normal na minha vida, sem maiores deslumbres. Lula tomou a dianteira e abraçou o mestre, parabenizou-o pelo show e começou a comandar o arsenal de fotos. Primeiro, com ele e Marisa (que a essa altura já estava liberta de mim); depois, só com ele; depois as netas, uma por uma; com Franklin Martins e a esposa; com a atriz... E quem é aquela sem contexto ali atrás?

Ahá! Minha vez!
Enquanto os outros tiravam as fotos, eu me preocupava com duas coisas: o que ia dizer, e como ia registrar aquele momento, afinal o fotógrafo era da presidência e não meu! Baixou a pobreza, e lá fui eu perguntar às netinhas se alguma delas tinha máquina digital. “Máquina? Não...” É claro que não! Quem precisa de máquina portátil quando está seguida por um profissional, com equipamento profissional, é neta ou alguma coisa muito próxima do presidente da república? Ninguém tinha máquina. E tinha chegado a minha vez... O coração disparou, fechei os olhos bem rapidinho e imaginei que não tinha mais ninguém ali além de nós dois. Nos segundos em que andei em direção ao mestre, acho que senti algo parecido à mulher que enxerga (só) seu amado no altar. Ou como aquela flor que desabrocha só uma vez em toda sua existência. Ou Macabéia na hora do atropelamento. Era ele... Abracei, e aí não teve como manter o traquejo. Apertei. Cheirei. E disse palavras confusas, que diziam tudo ao mesmo agora. Não posso dizer exatamente quantas e quais foram escolhidas, e nem em que ordem foram ditas, mas todas queriam dizer algo como:


- Você não tem idéia de como a sua obra permeou os momentos mais importantes da minha vida, melhores e piores;
- Eu sei que é um clichê, mas preciso manifestar: você realmente entende a alma feminina;
- O show de hoje e esse encontro agora são, sem dúvida, alguns dos acontecimentos mais importantes da minha vida;
- Eu amo cada nuance do seu pensamento. Amo os versos. Amo muito, tudo.

Foi um devaneio só.
De alguma forma, essas idéias foram condensadas num jogo de palavras X* e verbalizadas em seguida. O que não foi dito foi pensado, e talvez o abraço que sucedeu o discurso tenha canalizado meus pensamentos pra ele. A iniciativa do abraço foi dele, um encontro de corpos tenro e intenso – eu juro, fui abraçada de verdade, e não foi só pra constar, aconteceu uma troca de energias. E antes do enlace escutei um “obrigado”, tocado na mesma voz que embala as canções. Dei beijo no pescoço e ganhei beijo na bochecha esquerda. E não conseguia tirar do meu rosto o sorriso permanente.

... Abraço e click!
Enfim. Convoquei o fotógrafo da presidência pra registrar o encontro, e de repente me vi diante de uma platéia engraçada. Todos em silêncio, respeitosos, observando o movimento. Foi a única foto fora do protoloco, ou melhor, quase única. Quando o Lula foi fazer o retrato com o mestre também tietou. Mas tirando ele, todas as outras pessoas faziam a pose ombro-com-ombro. Eu agarrei meeesmo, trouxe o Chico pra perto de mim, e nunca mais ele foi embora daqui.





* O engraçado é que o texto desse encontro já vinha sendo ensaiado há pelo menos oito anos, na esperança de cruzar com o Chico na rua, no avião, na praia. Eram perguntas infinitas, sobre obras, personagens, contextos, nomes de música, processo criativo, tanta coisa! Mas na hora em que tete-a-tete aconteceu, tudo isso desapareceu. Só restou a vontade de agradecer, preterir as causas e falar sobre os efeitos que sua obra causa em mim desde sempre.


Wednesday, October 18, 2006

Use vírgulas

"Esta é a sua chance de mostrar às pessoas o quanto você é especial. Use vírgulas para separar os interesses." Esse é o ultimato que os usuários do orkut recebem ao editar seu perfil, naquela parte subjetiva. Será que o redator do site tem noção da profundidade e do perigo potencial presente nessas frases?

Esta é a sua chance de mostrar às pessoas o quanto você é especial. Use vírgulas para separar os interesses. Isso fora do contexto é surreal. Lido em voz alta é bem ridículo também.

Esta é a sua chance. Um narrador diria "essa é a SUA chance", num tom crucial - é agora ou nunca.

O quanto você é especial. A parte mais assustadora. Quantificar um universo de idéias, sensibilidade, carinho, loucuras, humores. Racionalizar o que muita gente descreve como indescritível. Mensurar algo que muitas vezes nem temos consciência, e mais freudianos podem até enlouquecer investigando o que os outros pensam deles para obter uma resposta mais precisa.

Aí você desce mais um pouco e percebe que, na verdade, “o quanto você é especial” é quantificado e qualificado a partir da descrição de hobbies, hábitos cotidianos e principalmente pelas características do seu consumismo.

Use vírgulas para separar os interesses... Use vírgulas! Isso é como "Use filtro-solar" naquele texto todo feito no imperativo, simplesmente nonsense. Não basta ter que mapear a natureza positiva do ser – separe isso com vírgulas.

Ok. Choques à parte, não deixa de ser um exercício. Em tempos de superação do site de relacionamentos portador da solicitação em questão, a moda é patetizar as estruturas. Vou mostrar quão especial três pessoas públicas são. Não escolhi aleatoriamente e, se uma delas ler o blog, por favor sinta-se à vontade pra me repreender. Eu me senti super à vontade pra discorrer sobre a natureza de cada ser. Acrescentei uma descrição/fala , que substitui aqui o “quem sou eu” básico. Esses fragmentos foram retirados de sites das personalidades - ou quase isso - e as fontes estão linkadas pra quem quiser conferir a íntegra.


Caetano Veloso
“Considero Veja uma prova de que a imprensa brasileira tem força e competência.”

Paixões: Chico é lindo, o Rio é lindo, a Bahia é linda, Hebe é linda. Caetano é lindo ... Caetano sou eu. Ou não.
Esportes: Opinar de um jeito confuso, irritante e quase sempre desprezível sobre tudo, usando frases que contenham as palavras “lindo”, “Assim”, “coisa”. Cruzar as pernas ...
Atividades: Cantar e compor. Vangloriar e depreciar quem fala de mim em público. Atrair holofortes. Encantar pessoas com a minha música.
Livros: O mundo não é chato (meu). A questão do ser do si mesmo e do eu (não é meu, mas podia ser).
Música: A minha versão de Come as You Are
Programas de TV: Gosto de ver as minhas entrevistas no último bloco do Fantástico. Aquele do Lobão também é lindo.
Filmes: Pode ser seriado? Anos Rebeldes. Arrasei na trilha sonora.
Cozinhas: O bobó de dona Cano, a moqueca de dona Tetê. Minha ex-mulher não cozinhava nada. A cozinha, na verdade, é um espaço de criação e descriação dessa coisa chamada Brasil.

Regina Duarte
“Uma mãe amorosa. Uma atriz talentosa. Uma celebridade politizada. E, acima de tudo, uma mulher preocupada com sua higiene íntima.”

Paixões: Minhas novelas, são minhas meninas minha gente! Os homens de minha vida, atualmente o Diogo – mas também jogo meus cabelos pro Greg. Vavá, sempre. Minha filha Gabriela eu odeio.
Esportes: Eu tenho isso de estar bem comigo mesma. É ótimo, não é pessoal? Por isso sempre tenho meu chuveirinho à mão (risos abafados).
Atividades: Atuar, afinal sou a eterna namoradinha do Brasil. O resto são todas vacas! Deixar sempre em dia a depilação e o estoque de vavá.
Livros: O Corpo Fala (risos super abafados...)
Música: Como uma Deusa, da minha amiga Rosana. Gente, o que foi o deslocamento do fio russo dela?
Programas de TV: Minhas novelas. São minhas meninas, gente!
Filmes: Lagoa Azul. Eu faria aquele filme, não me importo com a perversão. Se eu sentisse alguma coisa se mexendo em mim... tá na hora de vavá!
Cozinhas: No Projac a gente come muito, minha gente. Ultimamente fico só no Diet Shake... quem sabe não me convidam pro remake da Volta à Lagoa Azul?


Roberto Justus
“Roberto Justus fala húngaro fluentemente. Ele foi casado três vezes. Em entrevista à revista Veja, declarou que Adriane Galisteu, uma das ex-mulheres, tentou se promover chamando os paparazzi para fotografar a lua-de-mel do casal. Ela, por sua vez, disse à imprensa que o ex-marido fazia escova no cabelo.”

Paixões: Maquiagem. NY. Laquê. Carnificina em processos seletivos.
Esportes: Demitir e contratar, na proporção 300 mil para 1.
Atividades: Humilhar candidatos, casar e separar, ser O exemplo de liderança empresarial no Brasil. Também gosto de sair em CARAS.
Livros: Construindo uma vida (meu). Comprem ou estarão demitidos do mercado editorial.
Música: “ Meu carro é vermelho, não uso espelho pra me pentear ...” canto no banho esse trecho, diante de um espelho que não embassa, e encurvo as sobrancelhas pra ficar como as de vilão de desenho animado. [MEDO]
Programas de TV: O Aprendiz, O Aprendiz 2, e agora um que ainda não tenho o nome, onde contratarei meu sócio. Os de fofoca que especulam sobre a minha vida estão demitidos.
Filmes: Curtindo a vida adoidado. Esse clássico é uma metáfora empresarial, fala de obsessão, garra e objetivo. Está contratado.
Cozinhas: Restaurantes financiados pelo HSBC, nosso parceiro nessa empreitada.

Friday, September 29, 2006

O mote eleitoreiro



Hoje, teoricamente, acaba a tirania dos santinhos. Contabilizei por alto uma média do número de publicações de campanha colocados por dia no meu carro nos estacionamentos da cidade: 6 do trabalho, 4 na UnB, 4 na academia e 5 em bares e restaurantes. Isso significa que, em média, meu carro chegou a ser premiado com 19 panfletos por dia. Fora o que não foi contabilizado ... esse mês ainda andei pela torre de tv, festas com estacionamento ao ar livre, cinema nos fins de semana e trabalhei num jantar de um político desprezível (OVERDOSE, socorro). Considerando que a euforia gráfica foi intensificada quando faltava um mês de eleição, são quase trinta dias de divulgação - será que o jejum eleitoral vai ser respeitado? - e mais de 600 papéis incovenientes bombardeando uma eleitora.

Passemos então ao conteúdo. Estabeleci alguns critérios para o trato dos materiais de campanha "recebidos":

- Não ler o mesmo folder mais de uma vez, a não ser que seja de um dos meus candidatos;
- Nunca ler nada com a imagem de um homem de terno completamente branco, tenho muito medo deles (geralmente são candidatos do PP);
- Desconsiderar aqueles com sobrenome Roriz. Uma questão de princípios. Dedé, Paulo, Jacqueline, o próprio e afins... sorry;
- Privilegiar a análise dos termos em negrito, afinal deve haver algum um propósito nisso;
- Observar, além das propostas e dos clichês, a diagramação caótica dos panfletos. Quem fizer a mais escatológica ganha o prêmio inelegível do ano;
- Para publicações de tamanho A4 - ou maior que isso, eu já vi! - sentir pena do candidato. Pra esse tipo de público-alvo, motoristas irritados com tanta propaganda política colocada equivocadamente em seus veículos, o efeito do mini-jornal é próximo de zero no approach.
- Considerar prepotentes os candidatos que distribuem, além dos "informativos", adesivos. O cara acha que é tão irresistível assim a ponto de despertar em mim um desejo incontrolável de propagandear a sua candidatura?
- Corrigir mentalmente todos os erros de português dos panfletos, atribuindo mais pontos negativos aos básicos, e encaixar seus canditados na categoria Potencialmente Semi-analfabetos e Indignos;
- Depois da contemplação forçada, colocar tudo no lixo.

Impossível não fazer algumas considerações sobre a publicidade das campanhas eleitorais. O que me chamou a atenção disparado foi a característica mais ressaltada pelos candidatos atualmente, diante do contexto de abundante corrupção evidente: "meu nome nunca esteve envolvido em nenhum escândalo". Maltido diferencial! O certo e o ideal passou a ser artigo de luxo, moeda valiosa na disputa pelo voto. Quer dizer, hoje temos que agradecer ao fato do cara não se meter em sujeira. Políticos queridinhos, deixa eu situar vocês: isso não é nada além do básico. Tratar o dinheiro público com respeito é básico, exercer o seu mandato honestamente é o mínimo diante da responsabilidade tão grande que é legislar pra sociedade. Então não me venham com churumelas, eu não vou baixar o meu nível de exigência nem vangloriar nenhum mané porque simplesmente o básico foi feito, não é nessa vida que vou ser adepta da filosofia "rouba mas faz" e suas derivações. Imagina o que o meu chefe vai dizer se eu for pedir um aumento pra ele com o seguintes argumentos: "Mas eu não sou analfabeta! Eu sempre chego na hora certa! Eu não durmo nem espalho o caos durante o expediente!"...

Tem aqueles clichês históricos, tristes, mas que dão toda a cara de uma eleição. Sem eles, talvez até nos sentiríamos desnortead@s. Primeiro vem a promessa impossível - não vou usar "mirabolante" porque uma candidata pouco digna daqui adora essa palavrinha ... Gente, sai dessa, ninguém mais dá moral pra isso! Pelo amor de Deus, a UnB tá ralando pra pagar os professores e manter a limpeza digna dos banheiros e GERAL prometendo 25 mil campi novos! Detalhe, fast-building né, em menos de 4 anos. O que, debate conceitual sobre o assunto, verificar a viabilidade desses projetos, pra quê? Transformam a universidade pública em outra moeda de campanha ... P*&#@! Pela primeira vez eu senti vontade de assistir TV com o magnífico. Até ele deve ter ficado chocado. Saindo da esfera candanga, outra vez um candidato (MT, se não me engano) propôs encanar o mar. Piscina de água salgada no planalto central, e com importação da legítima areia de praia. O mareoduto ia ligar Cuiabá ao Rio ... pô, absurdo por absurdo bota esse cano na Bahia, leva uma água quentinha praquele calorzinho bom de matar um.

Preciso reconhecer que houve alguns avanços. A maioria do material que eu vi não tem mais aquela cara de sindicato dos anos 80 - talvez porque os partidos seguidores dessa linha não têm recursos para elaborar publicações impressas. Atribuo isso ao efeito borboleta da ação Duda Mendonça, essencial para a vitória do atual presidente em 2002. A construção de uma imagem plural e sem vícios clichês foi, na minha opinião, o fator decisivo daquela eleição. Só a Regina Duarte ainda sentia medo do Lula. Vários candidatos aprenderam direitinho a lição, não só no que se refere à sua linha editorial dos panfletos, mas na própria condução da campanha. Não ouvi nem metade do que esperava sobre a quebra do sigilo do painel e, salvo o espetáculo da mídia em torno do dossiê, tentativa desesperada de evitar a reeleição do presidente, e a cobertura totalmente parcial da mídia, os ataques a respeito do mensalão foram muito mais brandos do que a atmosfera pré-eleitoreira indicava. Em geral, foram campanhas vocacionadas por propostas. Aqui em Brasília, quando Arlete e Abadia tentaram sair da linha light e partir pro ataque, Fátima Passos, a célebre candidata do PSDC (E E E maelll um-de-mo-cra-tra-cris-tão) se manifestou: "Vamos fazer um debate de idéias, e não de acusações ... aos 12 anos realizei um sonho, comprei minha primeira calça jeans!". Não consigo me conter escrevendo isso ...

Entonces, depois de toda essa reflexão, não poderia deixar de sugerir algumas idéias para a campanha eleitoral de 2010:

- As coligações podiam pensar em maneiras criativas de lidar com a rejeição do seu material de campanha. Junto com os santinhos, podiam distribuir um daqueles saquinhos de lixo que você coloca na marcha do carro, pra facilitar o escoamento;
- Vermelho, verde e azul já era. Essa moda RGB tem quer ser substituída pelo espectro CMYK. Que ótimo seriam as campanhas pink, amarelas, púrpuras! Asseguraria mais tempo de leitura aos panfletos.
- POR FAVOR, vamos acabar com isso de um candidato apresentando outro. Isso no mínimo é um desafio à inteligência do eleitor. Sou super a favor da inclusão dos portadores de necessidades especiais na esfera pública sem cotas, mas acredito que a mudez dos possíveis deputados deva ser publicizada. Aliás, isso motivaria propostas de campanha muito mais interessantes.
- Os trocadilhos devem ser reinventados. Entre nome e número (Candidato do PFL: "Fulano 23123, depois do Arruda 1-2-3!"), pai e filha ( Jacqueline Roriz: "Papai Roriz disse que o sonho da vida dele é ter uma filha na política..." não fode!), bandeira e campanha (Candidato pastor evangélico: "eu vou botar aquele congresso de joelhos"), característica física e atuação (Candidata anã: "Pequena no tamanho, grande na força de vontade!") e por aí vai;
- Pelo amor de Deus, não é Luiza Helena... É HELOÍSA HELENA!;
- Finalmente e mais importante: chega de tanto marketing pessoal fictício, promessas insalubres, irresponsabilidade com bem público. A sociedade não aguenta mais tantos picaretas, essa agressão é gratuita e mexe com a auto-estima do povo. Não queremos nada além do essencial: respeito, honestidade, compromisso e projetos transformadores que contribuam para diminuir a injustiça social que impera nesse país. Os manés que estão pensando em se eleger pra mamar nas tetas do estado e operar a máquina pública em seu favor ... são uns manés mesmo, pobres de espírito, carrascos sociais, crápulas engravatados de plantão! Se a justiça convencional não for eficiente para puni-los como merecem, os astros dão um jeito.


Em 2014 votem em mim!



Monday, August 07, 2006

A mare vermelha e as torneiras

A atmosfera de Buenos Aires tem muitas nuances e nao e analoga a sua temperatura.

E impressionante como os argentinos acompanham a vida politica do Brasil e partilham a sensacao de decepcao com o governo Lula. Eles enxergam no Brasil um expoente, uma referencia, e ansiavam por uma reforma politica latino americana com a chegada do PT ao governo. Chamam Lula de fraco, traidor e o comparam a FHC. Enfim.

A rivalidade do futebol e reproduzida sim nos dialogos entre brasileiros e argentinos, mas nem de longe e relevante a ponto de gerar conflitos circunscritos as piadas. Quando se fala em Brasil, ha uma identificacao imediata, aflora en los chicos um sentimento de pertencimento a America Latina.

Em Buenos Aires, observei duas manifestacoes de preconceito. Os peruanos sao discriminados por muita gente. E parte de um ciclo vicioso, eles vem em busca de emprego, nao conseguem e acabam trabalhando em subempregos ou caem na marginalidade. Ate agora nao tive a oportunidade de ver um peruano bem sucedido. Tracos fortes, os cabelos super lisos e pretos e as roupas coloridas delineam a presenca que em Buenos Aires e pouco querida.

A segunda manifestacao de preconceito tem a ver com o sentido literal dessa palavra, um conceito formado antes do contato com o objeto em questao. Em Buenos Aires nao existem negros. E surreal, pros argentinos uma coisa meio Zeca Pagodinho / Nunca vi nem comi eu so ouco falar /. Aqui nao houve escravidao nem migracoes do continente africano, entao o negro e tido como um elemento folclorico e distante da realidade. E o puro e simples desconhecimento da raca, vista apenas nos cinemas e seriados norte americanos.

Mas essa sociedade tambem sabe incluir. Aqui os portadores de necessidades especiais tem mais possibilidades de revelar sua autonomia, em varios espacos existe a atencao necessaria. Rampas, elevadores, traducoes em braile e varias sinalizacoes especificas fazem parte do cotidiano. Com certeza nao e uma situacao ideal, mas los hermanos estao melhores que nos nesse ponto.

A corrupcao aqui se manifesta entre policiais e taxistas. Ambos sao vistos com muita ressalva. Os primeiros trazem uma sensacao de inseguranca, sao abusados e sem escrupulos. Os segundos nao respeitam o turista, tem uma politica de exploracao escatologica, a ponto de haver uma campanha publica alertando sobre o perigo de tomar um taxi nao conveniado a algumas redes que possuem credibilidade.

Outras percepcoes menos reflexivas / Em Buenos Aires o vermelho no cabelo esta na moda. Um amigo daqui disse que meses atras houve uma campanha publicitaria de uma tinta dessa cor, e desde entao as argentinas estao freneticas. Varios tons ruivos combinados a cortes modernos, desfiados [ sera que a navalha so chegou aqui agora] compoem a mare vermelha da cidade.
Aquelas torneiras em dupla, quentes e frias, funcionam em todo lugar. Talvez por uma questao de sobrevivencia, ja que o frio nao e brincadeira. Aqui tem pedacos de Sao Paulo e Brasilia, avenida paulista, eixao, pizza, debate politico, cemiterio VIP. Na capital paulista, esta enterrada no centro da cidade a familia Matarazzo / Em Buenos Aires, Evita.


+ A falta de pontuacao e acentuacao e culpa do teclado desconfigurado do albergue. A foto eu coloco quando chegar a um computador com entrada USB.

Friday, August 04, 2006

Partiu


Um grande amigo sugeriu que eu criasse esse blog pra mandar notícias da Argentina. Por que não?